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ARTIGO: A CULTURA E A CRIMINALIDADE

ARTIGO: A CULTURA E A CRIMINALIDADE

22/04/2014

Eu nunca tive o luxo de levar bronca dos meus pais pela bagunça reclamada da escola, como acontece com os meninos na adolescência, o primeiro ensinamento foi disciplina rígida. Não gosto de lembrar os gritos que me humilhavam quando me esquecia de limpar um dos cantos do pé de café na colheita. Nas tardes em que eu insistia em tirar uma cesta, meu pai cinicamente ralhava. “Trabalho não é crime, pobre tem que primeiro aprender a trabalhar”.Eu me calava. E assim recebia o segundo ensinamento: a submissão.

Mas não reclamo da sorte: “Sei que fui lambaio, eu tirava sangue pra fazer tudo naquele tempo, na temporalidade já existe o ensino profissionalizante. Mas aprendi o serviço, depois tive orgulho de estudar me formar e da minha família”. E conclui com convicção: “Eu acho um absurdo essa lei que criança não pode trabalhar. Trabalhar é bom, não mata ninguém ao contário”.

 A maior causa da criminalidade são os costumes de um povo que vê naturalidade em tudo. Estava um dia desses em um estádio assistindo a um jogo de futebol amador, ao meu lado, os filhos ainda crianças, puxavam o coro dos pais, vai tomar n. c... Juiz ladrão f. d. p. fiquei indignado. O problema do brasileiro é a falta de educação, o excesso de preguiça, de patriotismo, falta de sabedoria o excesso de malandragem e a absoluta falta de uma cultura única, o que é compreensível.

No Brasil, a famosa “Lei de Gérson” é conhecida de todos. Vivemos numa cultura de cultuar o “jeitinho”, e o personagem símbolo da nossa sociedade é o “malandro”. Não foi por acaso que ao criar um personagem que personificasse o Brasil, o escolhido foi um papagaio que não trabalha, não paga suas dívidas e vive à custa de enganar os amigos honestos, personagem que representam bem a nossa autoimagem, como nação.

A cultura do brasileiro não faz distinção de conta bancária. Verdadeiras espeluncas sobre rodas, que deveriam estar no ferro velho, junto com aqueles, em carros que custam mais do que um brasileiro de classe média ganha por ano e tem boa “educação”, no sentido de diplomas e universidades, passam pelo acostamento, outros aceleram quando um macróbio está a atravessar a rua só para vê-lo correr. Muitos repetem que a solução está na educação, mas não questionam qual educação.

 As pequenas coisas importam, estão no detalhe, são sintomáticas. O cidadão que ignora totalmente o respeito ao próximo, querendo se dar bem à custa dos outros, vem depois reclamar da corrupção em Brasília. Pois eis o que a malandragem gera: um país corrupto, miserável, sem lei. Enquanto isso, os “otários” dos americanos, por exemplo, que se rendem aos idosos, seguem as regras, seja por conscientização ou por medo da punição, e vivem em um dos países mais prósperos do mundo. Há que se mudar tanto as instituições brasileiras como a mentalidade do povo.

 Uma das perguntas que são feitas em pesquisas é “é normal levar vantagem sobre os outros?”. Quanto mais positiva for a resposta a essa pergunta, “maior é o cinismo da população em relação à lei e mais provável que cometam crime. Há malandros demais para otário de menos.

Quando uma cultura incentiva esse pensamento, isso faz as pessoas pensarem que, se elas não levarem alguma vantagem, ficarão para trás. “E então cada vez mais gente viola a lei”. Logo, num país onde levar vantagem sobre os outros é tido como positivo, e onde a maioria se comporta cinicamente em relação ao Estado e à lei, o controle social informal é nulo.

Essa mentalidade precisa mudar. Caso contrário, o retrato do país não mudará. Seremos para sempre o gigante adormecido, esse país maravilhoso que tinha tudo para ser um paraíso, mas que não passa de um recordista mundial em homicídios e pobreza. Não é a pobreza, mas a impunidade que gera a criminalidade, o Brasil inteiro tem que acordar: chega de impunidade e malandragem!

Artigo escrito por Israel de Souza Brito - Investigador de Polícia da Delegacia do Adolescente, Graduado em Geografia e Pós Graduado em Gestão Ambiental.

www.jtribunapopular.com.br

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