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Um grito parado no ar

Um grito parado no ar

30/09/2013

Sexta-feira, 27/09/2013

João Carlos da Costa

Sair pela manhã de casa, despedir-se de familiares sem a certeza de poder voltar. Esta é a rotina de trabalho de um policial civil, principalmente daqueles que vivem o dia a dia de uma delegacia de polícia, onde absorvem os piores problemas de uma sociedade carente de mais e melhores atenções governamentais.

O triste episódio que vitimou de forma cruel mais um colega de trabalho, neste ano em que a instituição policial civil comemora seus 160 anos de existência, ficará marcado como um símbolo da luta pelo respeito do trabalho policial, embora outros tenham sido feridos ou mortos em semelhantes circunstâncias e em outras épocas, cumprindo uma função que nada tem a ver com a finalidade para a qual foi contratado mediante concurso extrapolando, inclusive, o seu próprio dever.

A pergunta que não quer calar é: quantas vidas ainda serão ceifadas até que se resolva a questão da guarda de presos condenados em delegacias, um problema crucial que se arrasta há décadas? E quando os governantes abrirão os olhos para ver que a execução das atividades de polícia judiciária através do trabalho investigativo competente é essencial para a redução da criminalidade e para manter a tranquilidade da população? Sabe-se que é uma decisão política que depende de atitudes governamentais, principalmente no que diz respeito a política públicas específicas para o sistema carcerário e para outras áreas sociais, que direta ou indiretamente influenciam no aumento da criminalidade. Até porque o que se percebe é que a maior parte dos problemas sociais desembocam numa Delegacia de Polícia onde o policial civil muitas vezes faz o papel de psicólogo, de médico, padre, conselheiro, etc... ciente que a prioridade no seu trabalho é o dever de zelo pela vida de outrem e por tudo o que abrange a segurança pública. Para que isso ocorra a contento, muitas vezes se obriga a abrir mão da sua própria vida, do seu bem-estar e do convívio familiar para cumprir a missão para a qual foi destinado.

Para esses profissionais, a realidade tem se mostrado muito cruel, pois as dificuldades são imensas. Não bastasse as constantes reivindicações por salários condizentes com a profissão, a luta por melhores condições de bem-estar e infraestrutura para executar os seus serviços, acumulam serviços, em desvio de função comprometendo a própria segurança ao cuidar de presos condenados de alta periculosidade cumprindo pena em cadeias públicas superlotadas, em ambientes insalubres e frequentes alvos de arrebatamentos. O próprio Estado com isso, está descumprindo a sua finalidade com esses profissionais, descaracterizando a sua função, e rompendo um compromisso com a população, que espera resultados positivos aos seus clamores por mais e melhor segurança. Sob este aspecto, é forçoso acreditar, mas parece que a Polícia Civil somente é lembrada em acontecimentos de grande comoção, quando sua presença é exigida para resolver questões relevantes, o que invariavelmente ocorre, mas nem sempre há o reconhecimento.

Por outro lado, se ocorre algum caso isolado de atitudes contrárias aos bons costumes e à ética profissional, os oportunistas de plantão fazem questão de macular a instituição policial civil de forma genérica, sem enxergar que a maioria dos componentes desta grande instituição são pessoas honestas competentes, pais de família e, embora tenham a faceta de super-heróis, no entanto, são cidadãos comuns que diariamente se submetem a sacrifícios para garantir o melhor para a população e ao mesmo tempo atender às expectativas dos seus familiares, que querem o seu retorno são e ileso do trabalho.

Vale ressaltar que obrigatoriamente, para ser um policial civil, são necessários treinamentos rígidos, inclusive psicológico, e com o decorrer do tempo, mesmo que não queiram, muitos sofrem reflexos negativos poucos conseguem escapar ilesos dos reflexos negativos que afetam profundamente sua vida profissional e familiar, diante do estresse diário ocasionado pelas constantes pressões da sociedade, que visa a garantia de um atendimento qualificado e eficaz às suas reivindicações e da necessidade de prestar um serviço adequado sem ter as condições de trabalho condizentes para isso. E a imposição da responsabilidade pela guarda de presos condenados nas cadeias públicas tornam a profissão de policial ainda mais difícil, porque torna ineficaz o trabalho de investigação criminal, cuja atuação fica limitada e os resultados prejudicados, o que causa visões distorcidas da sua ação, mormente corroborada por ingerências externas que incitam críticas como pretexto de macular a imagem institucional.

Portanto, é urgente a tomada de decisões governamentais no sentido de se implantar mecanismos que promovam a desoneração laboral do policial civil sobre atribuições que não são suas. Para isso é preciso que a Polícia Civil do Paraná seja vista com mais respeito e que a segurança pública não passe apenas de um mote para compor plataformas eleitoreiras. O clamor da Polícia Civil precisa ser ouvido e não ficar no ar como mera manifestação por atitudes não tomadas.

João Carlos da Costa
Bel. em Direito (aprovado pela OAB), Bel. Químico, Professor e Escrivão de Polícia.

 

www.sipolparana.com.br

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